sexta-feira, junho 30, 2006

O Mercador de Veneza

The Merchandt of Venice, Direção e roteiro: Michael Radford, EUA, 2004, 138 min

Antes de tudo, estamos lidando com um texto de Shakespeare sendo adaptado ao cinema, o que tem grandes chances de soar chato, enfadonho e não passar com genialidade a peça para as telas. Confesso que mesmo sendo recomendado peguei com receio o filme das prateleiras da locadora, contudo o que vi valeu dobrado e compensou ver outras adaptações dessas que não fazem jus.

O filme se passa em Veneza e trata da história de um mercador (ótimo Jeremy Irons), o qual faz uma tremenda dívida com o judeu Shylock (espetacular Al Pacino), pelo seu amoroso amigo de muita estima Bassanio (o Shakespeare apaixonado, Joseph Fiennes) que almeja cortejar a belíssima e cobiçada Porcia (encantadora Lynn Collins). O enredo se desenvolve em volta de complicações sociais (o preconceito contra Judeus que são estigmatizados e isolados num gueto da cidade, além de perseguidos por praticarem usura), amorosas (é evidente o amor do mercador, Antonio, por Bassanio, que está disposto a pagar sua dívida pelo moçoilo com sangue), também trazendo a questão da confiança belamente tratado (tanto de pai e filho, quanto entre amantes).

O que me dói mais a consciência é não ter lido a peça para constatar o que de fato é Shakespeare e o que foi interpretação do roteirista e diretor Michael Radford. Porém, são inegavelmente clássicos os diálogos suntuosos como no momento em que o Shylock encontra seu amigo judeu, Tubal, com notícias de sua filha além de ‘boas novas’ sobre a falência de Antonio; Shylock destila vontade de vingança contra o mercador por conta do sumiço da sua filha e de seu bom dinheiro. Outro momento muito especial do filme é quando Bassanio está para escolher um dos três baús deixados pelo sábio pai de Porcia, no qual em um deles a donzela estaria trancada: um de chumbo, um de ouro e outro de prata. Bassanio nos delicia com o motivo de sua escolha e de Porcia arranca lágrimas apaixonadas.

Mas uma ênfase final gostaria de dar ao fato de que Shakespeare está em todo lugar, até no Auto da Compadecida. Quem não achou brilhante aquela saída, no final do filme, da filha do fazendeiro dizendo que o pai não poderia tirar uma gota de sangue do Chico, mas só a tira de couro afinal sangue não estava no contrato? Bem, quem ver Mercador de Veneza verá do que falo. ;)